Na pequena cidade em que moro existe uma lenda que é contada de pai para filho desde muito tempo atrás, na época da fundação do vilarejo.
Meu bisavô, enquanto vivo, contou esta história para mim e meus primos em sua casa numa noite de chuva.
A divisão das terras locais era feita por intermédio de cercas (método até hoje utilizado). Um dos descendentes dos três irmãos que fundaram a vila e dono da maioria das terras locais era um homem muito bruto e perigoso. Ele gostava de perseguir os viajantes incautos que invadiam suas terras sem querer.
Muitos homens foram mordidos pelos seus cães, ou perseguidos por ele e seus lacaios armados até os dentes e rindo debochados pela cara de medo dos coitados.
Meu bisavô contou que uma certa vez, um rapaz estranho vinha de passagem pelos arredores da cidade. O jovem entrou despropositadamente no território do fazendeiro, que logo que soube da situação pela boca de um de seus trabalhadores, desatou à cavalo em busca de divertir-se às custas da desgraça dos outros.
Os cães logo encontraram o rapaz, que descansava embaixo de uma árvore frondosa na margem da cerca de arame farpado que separava a estrada de barro que levava até a cidade da propriedade do homem.
O homem chamou a atenção do rapaz e disse que ele iria pagar o preço de ter invadido sua propriedade. Ele soltou os cães sobre o jovem que gritava enquanto tentava escapar dos ferozes animais. O homem observava alegre ao jovem sendo dilacerado pelos cães.
Nos últimos momentos ele chamou os cães e foi escarnecer o moço que se encontrava caído e empoçado pelo próprio sangue. O rapaz tinha em todas as suas partes as marcas dos dentes do animais. Ao perder as forças o morimbundo rogou uma maldição sobre o homem, dizendo que ele pagaria pelo resto da eternidade o que havia feito com ele e com os outros viajantes. Logo após ele morreu e foi deixado lá para apodrecer pelo maldoso homem que saiu dali perseguido por um medo incessante.
Meses depois, o homem foi realizar mais uma maldade com outro viajante. Mas desta vez ele não voltou. Os seus empregados encontraram seu corpo pendurado pelo pescoço na mesma árvore em que havia matado o peregrino da última vez. Nenhum de seus cães foram avistados nunca mais. E ninguém teve coragem de retirá-lo dali, pois seus olhos estavam arregalados e cheios de sangue, o que os fazia ficar vermelhos. Deixaram o corpo para a polícia retirar e averiguar.
Naquela época isso demorava muito e apenas no outro dia a polícia chegou ao local. Mas o corpo do homem agora estava no chão e sem a cabeça. Ninguém jamais soube explicar quem havia feito aquilo, pois ninguém teria coragem de ir até aquelas brenhas na escuridão da noite. A cabeça do homem foi encontrada dias depois boiando na enorme lagoa que dá nome à cidade.
Hoje as pessoas têm medo de passar naquele trecho da estrada, que agora é de asfalto, mas ainda passa do lado da árvore citada na história. Vários relatos afirmam ter visto um homem pendurado na antiga árvore, ou um homem todo ensanguentado sentado à beira da estrada, ou ainda latidos fortes nas noites mais frias.
Esta é uma das lendas urbanas mais conhecidas de minha cidade. As pessoas acreditam realmente que existe algo de sobrenatural naquele lugar e evitam passar por lá de madrugada.
Um fenômeno fantástico e uma história rica em detalhes. Acreditem se quiser, mas cada palavra aqui escrita foi retirada das histórias relatadas pelos moradores da região.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
O degolado
Marcadores: Lendas Urbanas
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário