terça-feira, 15 de junho de 2010

Barulho de correntes




Em 1986 um amigo chamado Renato me contou uma terrível experiência que ele e sua família passaram em uma fazenda do interior paulista. Seu pai era natural da Itália e emigrou para cá para trabalhar nas lavouras de café. Passados alguns anos e com família constituída se mudaram para uma fazenda onde segundo os moradores locais "ninguém ficava muito tempo" pois a mesma era "assombrada".
Passados alguns dias da mudança, estava a família reunida para o jantar como de costume, após o jantar sentavam na sala e ouviam rádio por algum tempo antes de irem dormir; O pai foi dormir primeiro e os irmãos ficaram escutando um pouco mais o radinho que era o meio de comunicação mais popular (e viável) da época. Algum tempo depois os meninos ouviram um barulho muito esquisito vindo da varanda: um arrastar de correntes contra o piso de madeira e um gemido de dor de arrepiar até os cabelos da sobrancelha. Correram para o quarto e foram rezar a Ave Maria rogando para que "aquilo" fosse embora.
Durante o dia conversaram com a mãe que os instruiu a chamá-la se acaso ouvissem algo estranho novamente. Na outra noite a mesma coisa, mas desta vez chamaram pela mãe... O pai acordou também muito mal humorado, tinha fama de ser um homem que nada temia, passou a mão na espingarda dizendo que iria "espantar" o engraçadinho que tentava assustá-los... Abriu a porta e saiu com a arma em punho... Meu amigo contou-me que a visão que seu pai presenciou fez seu cabelo arrepiar e o mesmo correr prá dentro e trancar a porta às pressas, nem sequer conseguiu disparar sua arma... Juntou a família perante a imagem da Virgem para rezar e quando amanheceu "juntaram as traias" e partiram dalí para nunca mais voltar.
Segundo seu pai lhes contou no dia seguinte, quando o mesmo saiu para ver quem era na varanda deparou-se com um velho muito alto e pálido que trazia os pulsos e tornozelos amarrados por correntes... O "velho" olhou fixamente para ele e apenas abria e fechava a boca como querendo dizer algo, mas as palavras não saíam... Algum tempo depois ficaram sabendo por boca de outras pessoas residentes na cidade que naquela fazenda havia morrido a muitos anos atrás um "coronel", ou seja, um senhor de engenho da época que possuía muitos escravos e os tratava com muita crueldade. Talvez sua alma estivesse condenada a vagar pela eternidade arrastando os grilhões com os quais prendia os escravos naquela fazenda que fora palco de tantas atrocidades cometidas contra os mesmos.

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